Sempre preocupada em atender seus diferentes tipos de público, a Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul inaugurou no dia 05 de novembro (sexta-feira), às 19h, a Gibiteca — um acervo de revistas em quadrinhos que está à disposição dos leitores, apenas para consulta local, na Gibiteca BPE. A maioria desses materiais é das editoras Marvel e DC Comics, de super-heróis, em coleções e números avulsos. E também séries mensais, especiais, graphic novels e materiais em capa dura, nacionais e estrangeiros.
A diretora da Biblioteca Pública, Morgana Marcon, explica como a ideia surgiu: “fizemos duas edições de uma feira de arte e quadrinhos, cujo objetivo era atrair os jovens para a Biblioteca. Na segunda edição, aconteceu um bate papo e uma oficina sobre quadrinhos. Na ocasião, Guilherme ofereceu parte da sua coleção para integrar o acervo da Biblioteca. Então iniciamos a pensar um grande evento de inauguração da Gibiteca, que envolveria diversas instituições vizinhas ao prédio da Biblioteca. O evento aconteceria como parte das comemorações de aniversário da Biblioteca em abril de 2020, mas a pandemia chegou e nada pode acontecer… Para nossa alegria, nesse período recebemos mais acervo de outros doadores, e a Gibiteca cresceu!”.
Por que uma Gibiteca?
As revistas em quadrinhos além de garantir o entretenimento, atuam como importante porta de entrada para o mundo dos livros e da leitura. Morgana Marcon lembra que o contato com a leitura, para ela, também veio através dos gibis: “Eu iniciei o gosto pela leitura lendo revistas em quadrinhos. Meu pai sempre comprava os quadrinhos da Disney: amava ler Zé Carioca, Pato Donald, Margarida, Mickey. Do quadrinho, pulei para os livros infantis, depois na adolescência li toda a coleção de Júlio Verne e da Agatha Christie e assim foi crescendo o meu amor pela leitura. Ter um acervo como esse disponível para o público em uma biblioteca pública acessível a todos, é muito importante.”
Na mesma linha de raciocínio, o editor Fabiano Denardin explica que a gibiteca é essencial à comunidade, pois permite que leitores das mais variadas idades tenham contato com quadrinhos, o que contribui para a alfabetização entre os mais jovens e para alfabetização visual em todas as idades.
Outro fator importante, destacado pelo ilustrador Adriano da Silva Andrade é a percepção de que quadrinho é um bem cultural, que tem em sua produção muitos fatores e muita gente envolvida. “Importante ter um espaço como uma Gibiteca que valorize e possibilite o acesso a esse bem a mais pessoas. De alguma forma estão inscritas nessas produções um registro da sua época, da sociedade, um olhar artístico e crítico, e quanto mais gente poder acessar essas obras, melhor. Que seja uma iniciativa que se multiplique, toda biblioteca devia ter uma gibiteca”, conclui.
Na opinião da ilustradora Ana Luiza Koehler, ter uma gibiteca na BPE é sensacional, pois dá aos jovens e adultos o acesso às obras. “Penso que é um espaço que pode ancorar a cena local dos quadrinhos ao promover encontros, debates e promover a valorização dessa linguagem que tantas vezes é considerada apenas para crianças”, acrescenta.
Outro doador do acervo da Gibiteca foi Adriano da Silva Andrade, que assina os trabalhos de ilustrador e quadrinista como Adri A. Adriano. começou a colecionar ainda criança com gibis da Marvel, X-Men, Homem-Aranha e outros. Gibis da Marvel da época que eram publicados no Brasil pela editora Abril “naquelas versões menores, até a época atual onde passaram a ser publicados aqui pela Panini”, explica. “Não me considero um colecionador de quadrinhos, mas o meu interesse por quadrinhos vem desde a infância. Eles participaram da minha alfabetização e me acompanharam até a vida adulta, se tornando objetos carregados de sentido e produtores de sentido também”, diz Adriano.
A ilustradora Ana Luiza Koehler conta que seus quadrinhos favoritos eram os da DC e Marvel comics dos anos 80 e 90, como X-Men, Novos Titãs, Liga da Justiça Internacional, entre muitos outros. “Eu esperava cada mês para ir a banca buscar as edições seguintes, acompanhava quase tudo de super-heróis. Claro, também li muitas HQs do Maurício de Souza, Disney, Hagar, Asterix, Luís Fernando Veríssimo… E acompanhava diariamente as tirinhas de jornal na Zero Hora. Depois, quando fui para a Europa com vinte anos, fiquei conhecendo as BDs franco-belgas, e comprei e li muitas delas, que tenho até hoje em casa. Hoje também tenho muitos quadrinhos da cena independente brasileira, cujos autores e autoras conheci em eventos por quase todo o Brasil nos últimos anos. Mesmo assim, não me considero uma colecionadora, mas uma apreciadora que gosta de conhecer a produção do momento. Eu sempre quis fazer quadrinhos, desde criança, e isso é o que me impele hoje em dia: contar as histórias que descubro sobre Porto Alegre nas minhas pesquisas”, diz a ilustradora.
Fabiano Denardin, editor da DC Comics na Panini, também desenvolveu o hábito e o interesse pela leitura de quadrinhos na infância, entre os 6 e 7 anos de idade. Na época, acompanhava as histórias do Pato Donald, da Disney, e da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa. Hoje, seus quadrinhos favoritos são Mafalda, Calvin & Hobbes e V de Vingança, como Escalpo, Y: O Último Homem e Sweet Tooth – Depois do Apocalipse. “Ultimamente coleciono menos, apesar de trabalhar com quadrinhos como editor já faz quase vinte anos. Já fui colecionador de Conan, Homem-Aranha, Sandman, agora me dedico mais aos quadrinhos da saudosa Vertigo, explica.
SOBRE OS PARTICIPANTES
Fabiano Denardin nasceu em Não Me Toque/RS. É editor de quadrinhos e foi sócio da Galeria Hipotética, espaço em Porto Alegre destinado a expor trabalhos e produzir cursos também relacionados ao mundo das HQs.
Ana Luiza Koehler é natural de Porto Alegre (RS), formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS. Trabalha desde os 16 anos como ilustradora para o mercado editorial impresso e digital. Atualmente dedica-se à produção de histórias em quadrinhos, ao ensino de desenho e pintura e também à ilustração científica no campo da arqueologia.
Guilherme “Smee” Sfredo Miorando nasceu em Erechim/RS em 1984. É doutorando em Ciências da Comunicação e mestre em Memória Social e Bens Culturais. Especialista em Imagem Publicitária e em Histórias em Quadrinhos. Graduado em Comunicação Social Publicidade e Propaganda. Pesquisa quadrinhos e suas intersecções com gênero, bem como outras aproximações da nona arte com elementos socioculturais. Já deu aula de quadrinhos, trabalhou com design e venda de livros e publicidade. Foi fundador e fez parte do conselho editorial da Não Editora. Participou de diversas coletâneas de contos, histórias em quadrinhos e artigos acadêmicos, algumas delas organizadas pelo próprio Smee. Manteve por dez anos o blog sobre quadrinhos splashpages.wordpress.com